Princesa Isabel - O mito da Primeira Senadora do Brasil
- José Fernandes Reis
- 16 de set. de 2024
- 4 min de leitura
Há um mito recorrente que circula na história política do Brasil: a afirmação de que a Princesa Isabel, filha do Imperador Dom Pedro II e uma figura central na luta pela abolição da escravatura, teria sido a primeira senadora do país. Embora a Princesa Isabel tenha desempenhado um papel crucial na história do Brasil, especialmente com a assinatura da Lei Áurea em 1888, a alegação de que ela foi senadora é incorreta. Este artigo explora as origens desse mito e esclarece o papel da Princesa Isabel na política brasileira.

### Quem Foi a Princesa Isabel?
Isabel Cristina Leopoldina Augusta Micaela Gabriela Rafaela Gonzaga de Bragança e Bourbon, mais conhecida como Princesa Isabel, nasceu em 29 de julho de 1846. Ela foi a herdeira do trono brasileiro e a segunda filha do imperador Dom Pedro II. Como princesa imperial, ela assumiu funções de regente em três ocasiões durante o reinado de seu pai, quando ele estava em viagens internacionais. Nessas ocasiões, a princesa desempenhou um papel crucial na política, sendo a responsável pela assinatura de importantes decretos.
O evento mais notável de sua carreira política ocorreu em 13 de maio de 1888, quando Isabel sancionou a Lei Áurea, que extinguiu a escravidão no Brasil. Por esse feito, a princesa é lembrada como uma das maiores defensoras da liberdade no país, ganhando o apelido de "A Redentora". No entanto, sua atuação política foi interrompida pelo golpe republicano em 1889, que destituiu a monarquia e exilou a família imperial.
### A Princesa Isabel Foi Senadora?
Apesar de sua proeminência na política brasileira durante o Segundo Reinado, não há evidências históricas de que a Princesa Isabel tenha ocupado o cargo de senadora. O mito de que ela teria sido a primeira senadora do Brasil provavelmente deriva de uma confusão entre sua importância política e seu papel de regente do império.
Durante o Império, não existia uma figura de senadora nos moldes modernos. O Senado Imperial era uma instituição composta por membros vitalícios, escolhidos pelo imperador entre uma lista tríplice de candidatos, sendo todos homens. O papel de Isabel como regente conferiu-lhe autoridade temporária para governar, mas isso não a tornava uma senadora.
Além disso, o Senado Imperial era composto exclusivamente por homens, seguindo a norma da época, que excluía as mulheres de cargos legislativos. Na verdade, foi somente em 1932, após a proclamação da República e a promulgação do Código Eleitoral, que as mulheres conquistaram o direito ao voto e à elegibilidade para cargos públicos no Brasil.
### A Primeira Senadora Real do Brasil
A verdadeira primeira senadora da história do Brasil foi Eunice Michiles, eleita em 1979. Eunice assumiu o cargo ao se tornar suplente de João Bosco de Lima, senador pelo Amazonas, que faleceu no mesmo ano. Com isso, Michiles entrou para a história como a primeira mulher a ocupar uma cadeira no Senado Federal. Diferente do mito envolvendo a Princesa Isabel, a ascensão de Eunice Michiles ao Senado aconteceu em um contexto democrático, após a concessão dos direitos políticos às mulheres.
### Por que o Mito Persiste?
A ideia de que a Princesa Isabel teria sido a primeira senadora do Brasil persiste em parte devido à confusão entre os papéis de liderança que a princesa desempenhou e a importância de seu legado histórico. O fato de Isabel ter exercido o poder político como regente, além de seu papel central na assinatura da Lei Áurea, muitas vezes leva à simplificação de sua influência como algo semelhante ao de uma senadora, apesar de isso não ser preciso.
Além disso, o peso simbólico de sua figura na luta pela liberdade e igualdade no Brasil reforça a ideia de que ela teria rompido barreiras políticas, como fez Eunice Michiles quase um século depois. A associação da Princesa Isabel com a conquista de direitos civis talvez tenha ajudado a alimentar o mito de que ela teria sido a primeira mulher a ocupar um cargo tão importante no legislativo.
### O Legado de Princesa Isabel
Embora não tenha sido senadora, o legado de Princesa Isabel permanece vivo na história política e social do Brasil. Sua atuação como regente, especialmente no processo de abolição da escravatura, a consagrou como uma das figuras mais importantes do país no século XIX. Sua visão progressista em relação à liberdade dos escravizados e sua disposição para sancionar a Lei Áurea, mesmo sob forte pressão política, a colocam em um lugar especial na história da luta pelos direitos humanos no Brasil.
Mesmo após seu exílio forçado pela Proclamação da República, Isabel manteve sua posição como defensora de causas sociais, embora não tenha retornado ao Brasil para ocupar nenhum cargo público. Seu impacto foi mais simbólico do que formal, mas ainda assim crucial para o avanço dos direitos no país.
### Conclusão
A Princesa Isabel nunca foi senadora do Brasil, mas seu papel na política do império foi extremamente importante. O mito de que ela teria sido a primeira senadora parece ser uma confusão em relação às suas contribuições como regente e à sua assinatura da Lei Áurea, o marco histórico mais relevante de sua vida pública. A verdadeira primeira senadora do Brasil foi Eunice Michiles, que assumiu o cargo em 1979, quase um século após a era de Isabel.
A história da Princesa Isabel continua sendo um exemplo de liderança e coragem política, independentemente de cargos ou títulos. Seu legado como a mulher que aboliu a escravidão no Brasil será para sempre lembrado, mesmo que o mito de sua atuação no Senado seja corrigido pela verdade histórica.
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